Como prometido, estou de volta para dar continuidade ao tema “Dores no Trabalho”. Na postagem do último mês (veja aqui) escrevi sobre a relação entre o tempo sentado ou de pé com as dores musculoesqueléticas. Dessa vez, pretendo abordar a influência da postura nesse contexto.
Em primeiro lugar, entenda que postura quer dizer “posição mantida do corpo”. Cada posição que assumimos, coloca uma carga específica em cada músculo e articulação. A aplicação dessas forças mecânicas (ex: compressão, tensão) causam deformações nos tecidos (estruturas do corpo). Quanto maior a força e/ou o tempo aplicando essa força, maior a deformação.
Ficou confuso? Deixe-me dar um exemplo: Segure o dedo indicador de uma mão e puxe-o para trás...
Se você puxar com força o suficiente dói, não é mesmo? Ao puxar um pouco menos, mas mantendo-o nessa posição muito tempo, perceberá que a sensação de alongamento aumentará gradativamente, até se tornar dolorosa. Isso acontece porque um tipo especial de célula chamada de nociceptor, percebe essa deformação e envia uma mensagem ao cérebro. Se o estímulo for notável o suficiente, um alarme é acionado para que ele perceba o perigo e produza dor. Se ouvirmos esse aviso e soltarmos o dedo, a dor cessa progressivamente. Mas se o ignoramos e continuarmos com o dedo esticado, pode ocorrer dano tecidual (lesão). Quando isso acontece, a dor persiste horas depois mesmo em repouso. Alguns movimentos podem até agravar a condição, caso a lesão não esteja completamente cicatrizada.
Você pode estar se perguntando: por que o meu colega de trabalho que tem a postura pior que a minha parece não sentir as dores que eu sinto?
Infelizmente, não há uma resposta simples e definitiva para essa pergunta. Mas podemos fazer algumas reflexões baseadas no que foi explicado acima. Duas pessoas sentadas o dia todo com a mesma postura, podem apresentar ou não sintomas dependendo da combinação de diversos de fatores como:
Condição atual dos tecidos
Sensibilidade do sistema de alarme
Flexibilidade (com a mesma postura, um pode estar mais próximo de sua amplitude de movimento final que o outro)
Idade
História de dores prévias
Nível de atividade física
Independentemente da manifestação ou não do sintoma a curto prazo, a carga constante nos tecidos pode causar mudanças em sua estrutura (colágeno). Essas mudanças o enfraquecem, alterando a sua capacidade de lidar com cargas e predispondo-o a lesões. Ou seja, sentindo dor ou não, evitar posições mantidas por tempo prolongado é uma estratégia preventiva e de auto-cuidado. O segredo é estar sempre em movimento. Dessa forma, você garante uma espécie de “revezamento” em que cada estrutura será sobrecarregada por um momento, mas não o suficiente para causar danos ou acionar o seu sistema de alarme. Posturas que implicam em maior demanda ao seu sistema musculoesqueléticas podem e devem ser assumidas, mas por menores períodos de tempo que outras. O problema é quando elas correspondem à posição mais assumida do seu dia.
Quer dizer que não precisa ficar sentado com boa postura o tempo todo?
Depende! Existem algumas condições que, em minha opinião, exigem a manutenção de uma postura ereta por alguns dias e até mesmo semanas. É o caso de pessoas que já estão com dores lombares e que, ao corrigirem a postura, observam uma diminuição das dores na coluna e/ou nas pernas (dor irradiada). Isso acontece porque ao manter a curvatura normal (lordose) da coluna lombar o processo de recuperação é favorecido. Uma vez recuperado, deve-se retomar a estratégias de movimentos e posições variadas.
Essa foi a segunda parte da série de artigos sobre Dores no Trabalho. Continuarei abordando esse tema nas próximas duas postagens. Uma será sobre outros fatores relacionados à dor no trabalho e a última será sobre dicas para lidar melhor com esse problema!
Faça como alguns pacientes e dê o seu feedback, seja positivo ou negativo. Aproveite para tirar dúvidas e fazer sugestões de assuntos a serem abordados!