Se existe algo que a maioria dos profissionais da saúde e dos corredores de rua temem é o efeito do impacto nas articulações. O que mais ouvimos por aí são alegações de que atividades de impacto causam artrose e que devemos evitá-las, principalmente se já apresentarmos sinais de desgaste. Como resultado, várias pesquisas foram realizadas com o objetivo de confirmar ou refutar essas alegações.
Os resultados são controversos, provavelmente devido ao alto número de variáveis relacionadas à corrida (nível, intensidade, tempo de prática) e aos outros fatores de risco associados à osteoartrose. Isso significa dizer que, até o presente momento, não é possível afirmar que o impacto da corrida faz mal aos membros inferiores (veja postagem sobre esse assunto clicando aqui). No mínimo, isso é suficiente para continuarmos correndo e aproveitando os efeitos cardiovasculares, respiratórios e cerebrais dessa modalidade!
Mas e a coluna?
Pacientes com história de dor lombar frequentemente me perguntam sobre a corrida. Muitos já possuem diagnósticos médicos relacionados ao disco intervertebral (protusões, hérnias, discopatias degenerativas, etc). O maior receio relatado é o de piorar um processo de desgaste nos discos ou de aumentar as chances de uma nova hérnia. Se você também tem essa dúvida, vai gostar de ler o próximo parágrafo:
Um estudo publicado em abril de 2017 [1] buscou investigar se indivíduos que correm regularmente apresentam discos intervertebrais com melhor qualidade tecidual que indivíduos saudáveis e sem doenças na lombar, mas sedentários. Eles também buscaram responder se essa condição dos tecidos do disco variam de acordo com o volume de corrida. A qualidade tecidual é representada pelo termo “Tempo-T2”. Significa o tempo que os prótons demoram a voltar à posição de repouso, após serem eletrizados pelo pulso eletromagnético da ressonância magnética. Na prática,quanto mais hidratado (saudável) o tecido é, maior o “Tempo-T2” e quanto mais degenerado, menor o “Tempo-T2” [2].
Os resultados mostraram que tanto corredores de longa distância (+ 50 km/semana), quanto os recreacionais (20 à 40 km/semana), apresentaram maiores “Tempos-T2” que indivíduos inativos. Outro dado interessante foi relacionado à altura dos discos, indicador diretamente proporcional à hipertrofia do tecido. Corredores de longa distância apresentaram discos mais altos. Veja no gráfico abaixo:
Quais são as implicações desse estudo?
Não significa que todas as pessoas com dor lombar devem sair correndo por aí. Algumas pessoas podem agravar suas condições dependendo de diversos fatores. Um dos vários exemplos são dores agudas, recentes e com alto componente inflamatório que podem piorar com atividades vigorosas. Somente um profissional da saúde qualificado é capaz de orientá-lo de forma correta. Entretanto, “cai por terra” a afirmação de que corrida enfraquece os discos e fragiliza a coluna. É o oposto disso.
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Fontes:
Belavý, D. L. et al. Running exercise strengthens the intervertebral disc. Sci. Rep. 7, 45975
Marinelli NL et al. T2 relaxation times of intervertebral disc tissue correlated with water contentand proteoglycan content. Spine (Phila Pa 1976). 2009 Mar 1;34(5):520-4.