As condições musculoesqueléticas são caracterizadas por dor e incapacidade funcional. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), elas são a maior causa de incapacidade no mundo e estima-se que 20 a 33% da população mundial vive com dor. Como consequência, frequentemente são associadas a perdas significativas na saúde mental, ao aumento no risco de desenvolvimento de doenças crônicas e com o aumento da mortalidade 1. Uma pesquisa realizada nos EUA sugere que metade dos americanos vive com uma condição musculoesquelética (ex: lombalgia, osteoartrose, etc). É o mesmo número dos que vivem com doenças cardiovasculares ou respiratórias somadas 2.
Apesar do avanços científicos e de novas tecnologias voltadas ao diagnóstico e tratamento, esse número vem crescendo a cada ano 3. É bem verdade que a expectativa de vida também vem crescendo e isso ajuda a explicar esse cenário. Entretanto, o fracasso das abordagens atuais é claro e alarmante. É necessária uma mudança imediata na forma com que os pacientes estão sendo avaliados e tratados. Essa mudança começa pela transição de um modelo biomédico no cuidado à saúde para uma abordagem biopsicossocial. As evidências científicas deixam isso cada vez mais claro a cada dia que passa, como é o caso da baixa confiabilidade dos exames de imagem (veja mais sobre esse assunto clicando aqui), do uso excessivo de cirurgias, da falta de informação e educação aos pacientes e da crise dos opióides.
Um estudo publicado no ano passado 4 teve como objetivo identificar recomendações gerais na avaliação e no tratamento de condições musculoesqueléticas, obtidas de guidelines de prática clínica atuais e de alta qualidade. Essas orientações servem como um guia para que os pacientes tenham uma referência e para que os profissionais da saúde possam fazer uma autocrítica. Veja abaixo quais são:
1. O cuidado deve ser centrado no paciente incluindo considerações sobre o seu contexto individual, usando uma comunicação efetiva e um processo de tomada de decisão compartilhado.
2. O paciente deve ser examinado com o objetivo de identificar aqueles com maior probabilidade em apresentar doenças graves (bandeiras vermelhas).
3. Fatores psicossociais devem ser avaliados.
4. Exames de imagem radiológicos são desencorajados, exceto: - Se há suspeita de doença grave; - Se houver resposta insatisfatória com o tratamento conservador ou piora sem motivo dos sintomas; - Se a probabilidade de mudança na abordagem após as imagens for alta.
5. Um exame físico deve ser realizado, podendo incluir testes neurológicos, de mobilidade e/ou de força muscular.
6. A evolução do paciente deve ser avaliada com o uso de medidas de resultado.
7. Os pacientes devem ser informados e educados sobre a condição musculoesquelética e sobre as opções de tratamento.
8. A abordagem deve ser voltada para atividades físicas e/ou exercícios.
9. Terapia manual deve ser usada apenas como um complemento de outros tratamentos baseados em evidência.
10. Exceto por indicações específicas (ex: uma doença grave), o tratamento conservador baseado em evidências deve ser oferecido frente à cirurgia.
11. A continuidade ou o retorno ao trabalho devem ser favorecidos.
1 Briggs AM, Cross MJ, Hoy DG, Sànchez-Riera L, Blyth FM, Woolf AD, et al. Musculoskeletal Health Conditions Represent a Global Threat to Healthy Aging: A Report for the 2015 World Health Organisation World Report on Ageing and Health. Gerontologist. 2016 Apr;56 Suppl 2:S243–55. 2 The Impact of Musculoskeletal Disorders on Americans — Opportunities for Action http://www.boneandjointburden.org/docs/BMUSExecutiveSummary2016.pdf Bone and Joint Initiative USA. 2016. 3 Sebbag E, Felten R, Sagez F, et al. Ann Rheum Dis Epub ahead of print: [please include Day Month Year]. doi:10.1136/ annrheumdis-2019-215142 4 Lin I, Wiles L, Waller R, et al. Br J Sports Med Epub ahead of print: [please include Day Month Year]. doi:10.1136/ bjsports-2018-099878